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terça-feira, 4 de maio de 2010

Administração é simples

Administração de empresas é simples. Todo empresário quando inicia a sua empresa tem a expectativa de obter um retorno sobre o dinheiro que ele investiu no empreendimento. Esse retorno geralmente é representado pelo lucro. Já há muitos séculos que empresários do mundo inteiro sabem que para obter lucro, basta ter receitas maiores que despesas e para ter lucros cada vez maiores, basta sempre aumentar as receitas e sempre reduzir as despesas. Muito simples, nem precisa ser alfabetizado para fazer a conta. A continha do lucro é feita por todas as instituições existentes que pretendem continuar existindo, sejam elas padarias, hospitais, escolas, estados, igrejas, carrinho de pipoca etc.

Com o tempo, conforme o nosso empresário prospera, outros empresários percebem que este é um bom negócio e que, como está dando certo para ele, certamente também dará para os outros. Assim, surgem os concorrentes: pessoas normais, que diferente do que pensa o nosso empresário que agora começa a se sentir ameaçado, também apenas desejam fazer um investimento em um ramo de baixo risco (já que se mostrou lucrativo) e ter um retorno para ele que garanta o seu sustento e de seus dependentes.

Agora temos muitos concorrentes. Tudo estaria bem se o mercado também aumentasse na mesma proporção. Esclarecimento rápido: quando falo mercado, não estou dizendo que os nossos empresários estão no ramo de mercados (mercadinhos, supermercados, mercearias) e não estão conseguindo aumentá-los. Mercado aqui representa o número de pessoas que desejam comprar o produto oferecido por eles e que possuem condições financeiras para isso. Em muitas situações, mercado também pode ser sinônimo de demanda.

Economia é simples. Aqui entramos em contato com outro probleminha simples: o controle de oferta e demanda. A oferta é tudo o que é oferecido pelas empresas e a demanda nós já sabemos. Quando a oferta é pequena, como no caso do nosso empresário no início de seu empreendimento, ela também é insuficiente para atender a todos que desejam comprar o seu produto (atender à demanda). Como dito anteriormente, a demanda é formada por quem deseja comprar e pode pagar pelo produto.

O nosso empresário não podia reduzir a vontade das pessoas comprarem o seu produto, apenas alterando-o. Então, ele reduziu a demanda reduzindo o número de pessoas que podiam pagar por ele. Ele fez isso aumentando o preço. Com isso, o nosso empresário em seu início, ao aumentar o preço também aumentou sua receita sem aumentar sua despesa. Logo, lucro ainda maior.

Agora que temos concorrência, a oferta também aumentou e os concorrentes agora querem aumentar a demanda. Para isso, eles fazem exatamente o inverso, eles reduzem o preço para que mais pessoas possam comprar. O nosso empresário é obrigado a fazer isto também, pois com o preço mais alto ninguém compraria dele. Preços baixos, menores receitas, custos iguais, lucro menor.

Economia não é simples. Em algum momento o preço se equilibra em torno de um patamar que ainda gera algum lucro suficiente para a sobrevivência da empresa. Ou seja, não há vantagem em reduzir o preço e levar todos a terem prejuízo e também não é possível aumentar o preço sob o risco de não vender. Este ponto também é conhecido como Equilíbrio de Nash em Teoria dos jogos.

Neste ponto, novos empresários já não entram no ramo que agora não é rentável o suficiente, uma vez que o retorno é muito baixo. Talvez valha mais a pena comprar uma casinha para alugar.

Administração não é simples. Já que está difícil aumentar a receita, agora ele deve tentar reduzir os seus custos. Para isso, ele revisa completamente o seu modo de produção, investe em máquinas novas e mais produtivas, renegocia com os fornecedores, reduz os estoques para ter dinheiro em caixa para estes investimentos. Com tudo isso e um pouco mais ele consegue reduzir os seus custos. A partir daí, ele tem duas opções: ou mantém o preço e desfruta de um aumento do lucro (receita igual, custo menor, lucro maior) que ajudará no retorno dos últimos investimentos realizados; ou reduz o preço de modo que os outros concorrentes não possam acompanhá-lo apostando na quebra dos concorrentes desatentos que perderão demanda (mantendo o preço alto) ou operarão com prejuízo (igualando o preço), e ainda aposta em um aumento da sua demanda. Esse aumento da demanda poderá representar aumento ou redução do lucro dependendo do nível de utilização da capacidade em que a empresa está operando.

Se ainda houver capacidade ociosa por parte da empresa e dos fornecedores, o aumento da produção poderá reduzir os custos fixos unitários, seja através do aumento da quantidade produzida e a manutenção dos custos fixos e seja pela negociação de descontos com fornecedores através de compras em maior escala (isto é conhecido como economia de escala).

Se não houver qualquer dos dois, um aumento da produção exigirá mais investimentos em ampliação ou operação com geração de custos adicionais, como pagamento de hora-extra. No caso do fornecedor, ele repassará este aumento para o empresário através de aumento do preço. Aqui ele começa a ter que fazer Gestão de Produção.

O nosso empresário reflete sobre a sua situação e percebe que ele pode aumentar a demanda ainda mais, desta vez a seu favor, ainda sem precisar reduzir o preço, talvez até aumentando um pouquinho.

Se todas as pessoas possíveis que poderiam ter condições financeiras de fazer parte da demanda já estão, então a outra forma de aumentar a demanda é fazer com que mais pessoas desejem comprar o seu produto. A maioria destas pessoas já faz parte da demanda total, mas a idéia agora é fazer com que elas façam parte apenas da demanda de sua empresa, deixando de comprar de seus concorrentes.

Para isso, o nosso empresário primeiro faz uma grande divulgação de seu produto. Ele coloca uma faixa na frente da sua loja, distribui folhetos, distribui amostras grátis, contrata uma banda para tocar na frente da loja. Com isso ele pretende tornar o seu produto mais desejado do que os dos outros. Agora ele vai começar a trabalhar com a gestão de sua marca. No entanto, todo esse investimento aumenta também os custos, mas se ele aumentar a quantidade vendida também aumentará a receita. O problema é que ele tem que aumentar a receita em uma velocidade maior que a despesa para poder aumentar seu lucro. Agora ele precisar cuidar da sua Gestão de Marketing.

O nosso empresário reflete ainda mais sobre o que está acontecendo e agora pensa em como dar condições para que as pessoas comprem mais de seus produtos sem precisar reduzir o preço. Ele então pensa em dar mais prazo para que possam pagar. Para fazer isso ele precisa calcular bem a quantidade de dinheiro sobrando em caixa que precisará no próximo mês para pagar suas dívidas, enquanto os seus clientes não lhe pagam. Primeiro ele conversa com os fornecedores para também conseguir um prazo maior para pagamento. Eles aceitam, mas avisam que cobrarão juros, então ele também passa a cobrar juros de seus clientes.

Isso ainda não é suficiente, ele precisa pedir dinheiro ao banco para se sustentar neste primeiro momento. O banco empresta, mas cobra juros ainda maiores. Ele repassa mais esses juros aos clientes.

A situação monetária da empresa fica complexa, exigindo agora uma projeção financeira de longo prazo para evitar que os juros pagos não tomem todo o lucro que ele esperava conseguir. Agora a empresa precisa cuidar de sua Gestão Financeira.

Com o contínuo crescimento da empresa, sempre provocado pela necessidade de ao menos sustentar a lucratividade, o que significa sustentar a sobrevivência,.agora a empresa possui um grande número de funcionários, tanto de produção quanto no escritório. São muitas pessoas de lugares diferentes, culturas diferentes, níveis de educação diferentes, motivações diferentes. Nosso empresário está preocupado em manter o nível de qualidade de seu produto pelo menos no mesmo patamar de quando ele próprio o produzia. Também está preocupado com a produtividade destas pessoas, que também representam custos.

Se todas as pessoas fossem iguais seria relativamente simples fazer com que todas se dedicassem ao máximo em troca de um mesmo benefício. Mas como são diferentes, ele precisa ficar atento ao que motiva ou frustra cada um. Mas como também são muitas pessoas, ele já não pode ficar atento a todos pessoalmente e precisa redistribuir a tarefa. Assim, ele cria políticas e programas para fazer a Gestão de Pessoas da empresa.

Sua empresa que outrora era individual, agora já possui quatro áreas administrativas e um grande parque fabril. Mas ainda assim, há a concorrência, que não foi eliminada com as suas ações, além dos novos concorrentes que entraram mais tarde, durante os períodos mais promissores e sem falar dos produtos, que embora diferentes, de algum modo substituem a necessidade do seu. Nosso empresário percebe que se estes novos concorrentes não tivessem entrado no jogo, a situação estaria muito melhor e que eles somente puderam entrar nesta concorrência devido ao fato de seu produto e seu sistema de produção serem de fácil imitação, pouco diferenciados.

Visando destacar-se da multidão, agora ele começa a investir em pesquisa e tecnologia para a melhoria de seu produto e até mesmo para o lançamento de novos produtos. Ele começa a investir em laboratórios, pesquisadores, programas de coletas de sugestões de funcionários, pesquisas de mercado para descobrir o que os clientes ainda desejam e muito mais. Obviamente, isto aumenta ainda mais os seus custos e, como se trata de fazer coisas novas, pode resultar ou não em aumento das vendas acompanhadas de aumento de preço. Para reduzir o risco e os custos de inovar ele descobre que pode desenvolver parcerias com universidades e institutos de pesquisa. Além disso, descobre que buscar recursos submetendo propostas de projetos aos editais de agências de fomento do governo. Com estas iniciativas ele começa a se preocupar com a Gestão da Inovação.

Desta forma, o cálculo da sua receita e das suas despesas já não é mais tão simples. Além disso, não adianta calculá-las apenas para hoje, são necessárias projeções e criação de cenários que considerem as possíveis oportunidades e ameaças externas em conjunto com as possíveis decisões e estratégias a serem adotadas. Não somente o lucro, mas também o caixa é importante em todos esses processos de gestão.

Gerir uma empresa não é simples, mas certamente é emocionante e pode ser muito interessante.