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domingo, 6 de setembro de 2015

O café de Agenor


Agenor - Figura 1
Figura 2
     Agenor era louco como qualquer pessoa normal. E assim como qualquer pessoa normal, ele ainda não tinha percebido que era louco. Poucas pessoas percebem que a consciência, nada mais que é, que um fruto da loucura. Um defeito em nosso córtex cerebral surgido do consumo excessivo de carne assada.

     Agora é tarde. Nem achamos mais que somos animais. Mas nem nos comportamos de forma tão diferente assim. Agenor pensava que sim.

Figura 3
     Hoje Agenor acordou como um velho. Reclamando que as costas estavam doendo, que o dia já estava quente demais e que a moral da sociedade estava perdida. Lentamente ele foi à cozinha, assim como se estivesse no fim de uma jornada de dias, arrastando as sandálias como se fossem bolas de ferro. 

     Preparou a chaleira e colocou a água para ferver, soltando um suspiro longo. Suspiro de dever cumprido. 

Figura 4
     A pia permanecia lotada, encarando-o de esguio, da forma como fora deixada no dia anterior. Como qualquer pessoa normal, ele sabia que aquilo precisava ser resolvido, mas em um momento de lucidez, resolveu verificar se ainda havia alguma xícara no fundo do armário. Achou um copo de requeijão. Suficiente. A pia aguardará mais um pouco.

     Agenor sabia bem como gostava do seu café: forte, amargo e passado por um longo e preguiçoso fio de água, temperado com pouco açúcar.

Figura 5
     O café tem dessas coisas. Assim como as pessoas, ele tem características particulares. Há quem ouse até dizer que o café tem personalidade. Digo que se isso for verdade, o café do Agenor sofre de um transtorno e cada dia se apresenta com uma personalidade diferente. 

Figura 6
     Exceto por uma característica, seu poder de mudar o ânimo pela manhã. Diria que seu café é aquele tipo de pessoa que acorda divertida, mas não com aquela animação irritante. Apenas aquele espírito alegre que contagia pouco a pouco até que a pessoa entra em sintonia e o dia começa. 

     Assim é o café de Agenor e após um copo de requeijão cheio de café, o seu dia começa. Agenor agora já rejuvenesceu trinta anos e está pronto para sair de casa. Hora de abandonar seu mundo e pisar no quintal.



Fontes das imagens:
  1. https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjciw-RcJaFc9gTKkJbltowbIH1iagg_qCNvLwaT8Tkj5AxPAVDZNWOHBRrnEmnGwSbaI1ndXe_miU52y8xDh7bQzCyYdzoC0HBG7SQRJCle6MGZ8AG9GlMY7E1kIHo1pM3sxqtkrEcs0Y/s1600/Me+Gusta_Memes.png
  2. https://excorde.files.wordpress.com/2011/03/brainfart-source-jbillportfolio.jpg
  3. https://radiated5.files.wordpress.com/2009/10/up_carl-thumb-500x648-177.jpg
  4. http://sossolteiros.bol.uol.com.br/wp-content/uploads/2012/11/lou%C3%A7a-voc%C3%AA-est%C3%A1-grande1.jpg
  5. http://www.zazabistro.com.br/blog/wp-content/uploads/2013/11/tumblr_mrha45rjL51rouu6no1_500.jpg
  6. http://www.mommarambles.com/wp-content/uploads/2011/12/add-coffee.jpg


terça-feira, 18 de agosto de 2015

Ensaiando em ingreis 1

It's not what it looks like
It's not
It's what it is
It's poetry

It's feeling
It's perception
It's imagination
It's You

It's Us

There's no proper meaning
No proper purpose
Sometimes,
It's not even proper

There are questions
There are deceptions
There's satisfaction
Just the same as...


Reality



segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Ah, meu guri







Figura 1
     Parece que faz tanto tempo que fui criança que confesso que já nem lembro mais direito. 
     Parece que faz mais de uma década.

Figura 2

     Mas lembro bem de um menino que era bem pentelho. Quase como um pentelho encravado. Se o proibisse de algo, ele perguntaria “por quê?”. E ai de quem respondesse “Porque não!”. Ai da mãe que sempre respondia assim... Ele precisava de argumentos, de sentido lógico, e não de uma ordem. Daí seu problema com militares. Daí seu apreço pela democracia. Daí um pentelho encravado, lógico e democrático.


Figura 3

     Lembro também que ele tinha uma imaginação fértil. Criava mundos inteiros com bonecos e carros, tecia intrincadas narrativas, se envolvia em dilemas de difícil solução... e expandia o mundo. A solução exigia mais, exigia um mundo maior, mais recursos para que no fim tudo terminasse em nada. Era como se interpretasse “Cem anos de solidão” a cada brincadeira. Sempre percebi uma vocação dramática. Ele também era um pentelho encravado, fantasioso e dramático.


Figura 4

     Desde cedo, lógica e fantasia sempre fizeram todo o sentido para ele. Por isso o apreço por rpgs, por jogos de videogames, por desenhos animados, por ler, por escrever. Talvez por isso a curiosidade sobre religiões, ciência, filosofia. 


Figura 5
      Lembro também que não entendia as convenções sociais. “Por que precisava dizer ‘bom dia’ todos os dias para as mesmas pessoas?” “Por acaso precisa lembrá-las todos os dias que o desejo de que tenham um bom dia permanece o mesmo?”

     Guri contestador que não entendia porque as pessoas brigavam por bobagem, como fofocas ou namoricos, por exemplo. Seus bonecos lutavam contra o mal que queria dominar o mundo, lutavam pela vida, pela donzela. Nunca usariam seus poderes para brigar por que alguém disse que as roupas dele parecem mais de elfo que de mágico, por exemplo.

     As pessoas lhe pareciam aleatórias e loucas demais, e por isso sempre adorou os cachorros. Tão simples e dóceis. Mesmos os zangados eram divertidos.

     E então que com o tempo a aleatoriedade humana lhe foi interessando, atraindo. Ele também foi ficando aleatório, meio louco. Não sei o que começou primeiro.


Figura 6
Sei que hoje continua louco,
Como que em brincadeira de bonecos,
Segue idealizando mundos
E brincando de humano.
Onde culturas intrigam,
Ideias fluem como rios,
Para oceanos de conhecimentos,
Pobres de sabedoria.
Onde sem motivo algum,
Em terreno de alegrias e dores,
Como belas e perigosas flores,
Brotam inusitados amores.

     Hoje esse guri anda por aí. Assiste desenho animado, come pipoca e sonha em conquistar o mundo que construiu em sua cabeça.

Figura 7
Fonte:

  1. http://papodemae.zip.net/images/crianca_arte.jpg
  2. http://bethmichel.com.br/wp-content/uploads/2011/11/pqnao.jpg
  3. http://batidasalvetodos.ne10.uol.com.br/wp-content/uploads/2012/10/Mafaldamaria.jpg
  4. http://followthecolours.com.br/wp-content/uploads/2014/10/yoga-jones-1.jpg
  5. http://www.mensagens10.com.br/wp-content/uploads/2014/01/bom-dia.jpg
  6. http://perlbal.hi-pi.com/blog-images/793671/gd/130489169208/Sim-voce-e-louco-louquinho-Mas-vou-lhe-contar-um-segredo-as-melhores-pessoas-sao-assim.jpg
  7. https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhisSz98ZfEB1VBIV6AyoBblxz3T_HbN2h7uCQJDykCSJEvBkFXxNwCgxncpwJDo2neVKz1OsjV832nd3T3XL-W0l2LwuNzOhNgr3hMCesO0c5EZuzNQ_ujRWiaRED2mIj7PCHIT9YXTwA/s400/mundo+melhor.jpg



segunda-feira, 10 de agosto de 2015

As delícias de uma teoria furada









Figura 1

Figura 2
     Hoje eu estava pensando sobre a vida. Fazendo reflexões sobre o que seria isso. Será que existe? De que se alimenta? Quem inventou? É de comer?

     E assim, divagando e vagando por aí, entre palavras e ideias, meio louco e embriagado de sacolé de maracujá, me perdi da ideia principal e me enamorei de uma outra. 

Figura 3
     Já percebeu como é divertido discutir sobre assuntos aleatórios e complexos e daí sair com descobertas não fundamentadas? 

  Admita, falar de coisas abstratas sem fundamento algum é sempre mais divertido. Assim, como mostrar de forma indiscutível que verduras fazem mal à saúde, por exemplo.

     Teorias furadas são tão boas na escrita quanto nos bate-papos. O delicioso prazer de devolver ao papel, o seu papel de liberdade. Liberdade de pensamento, de ideias... liberdade de si e das amarras da lógica. 

O poder de encontrar com a loucura, chamar para um passeio de bicicleta e arriscar se perder em mundos paralelos.

Figura 4
     O papel te permite escrever “havferits tsoircs”, por exemplo. Eu poderia escrever páginas inteiras assim. O único problema é que meus quatro leitores me abandonariam... 
    
    O papel me permite, mas a crítica me oprime... A Id e o Superego expostos... "Deixa quieto", diz o Ego escorregadio.

     A discussão seria mais ou menos assim:
Id: “havferits tsoircs”!
Superego: Deixa de bobagem! Fale direito!!!
Id: Hoje vamos falar de “havferits tsoircs”. Vai ser demais! Todas as suas maravilhosas qualidades. O mundo precisa saber disso!
Superego: Besteira. Senta lá, Id.
Ego: Hum, não. Conte mais sobre isso, Id.
Superego: =/
Id: Então, “havferits tsoircs” é o que há na Nova Era. A salvação da humanidade. “havferits tsoircs” é tipo “juovst”, mas em dobro. Não, ao quadrado! Tipo ao quadrado multiplicado pelo infinito...
Superego: Aff...
Ego: Prossiga, Id.
Id: Prosseguir com o quê?
Ego: Com sua explicação sobre “havferits tsoircs”.
Id: Ah, não. Isso já é passado. Totalmente over. Agora acho que deveríamos escrever como seria legal apostar uma corrida em uma pista toda coberta de bananas recheadas de caqui!
Superego: E como você vai rechear bananas com caqui, sua besta!
Ego: Acho que começou a novelas das oito.
Id e Superego: Ah, que bom!
...
     Lendo isso, me faz lembrar uma das mais importantes faces do papel. 

Figura 5
     O papel e sua dupla face...

     Fontes:
  1. http://www.aviagemdeodiseo.com/blogbr/wp-content/uploads/2012/04/o_pensador_do_seculo_xxi_474185-e1334781764559.jpg
  2. https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/236x/77/4d/62/774d62f2a3c25c74ddcb2e71a14dbaee.jpg
  3. https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1aZfoO1KP9j0RPeorhbBbuWvQ9qetP5EKf49itdKhjga_KLk92k7zFbOZ0dtyLCdOMd4LzME8UHISWdkXHW_S9tVJBDBokK95Pk9oao3M5UEeoKZNO7Kuz0IEOEmEh_kZFe9BKFRtRF8/s400/macaco+darwinista.jpg
  4. https://c1.staticflickr.com/9/8206/8237145359_69e756ea94_b.jpg
  5. http://i.ytimg.com/vi/v4XClOLK9Uc/hqdefault.jpg