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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Reflexões sobre inflação, ajuste fiscal, juros e outros.


(Obs.: Aqui você terá o prazer de encontrar conclusões precipitadas e falta de referências, mas uma grande oportunidade para o aprendizado através da crítica. Sdçs)

Com o reajuste do salário mínimo pela inflação mais o percentual da taxa de crescimento do PIB, tem-se um crescimento sustentado da demanda por produtos finais no mercado interno, uma vez que uma grande parte da população tem sua remuneração reajustada pelo salário mínimo.
Este aumento de renda contínuo, associado aos extensos programas de distribuição direta de renda (Bolsa Família), tem acelerado a participação do consumo privado na composição do PIB em uma taxa maior que a de crescimento do investimento em ampliação de produção. Isto pode levar a uma inflação de demanda, ainda que inicialmente moderada.
Este mesmo reajuste afeta a elevação dos custos, uma vez que grande parte das pequenas empresas possuem trabalhadores que terão seus salários reajustados desta maneira e estas empresas tem como percentual relevante de sua estrutura de custos: a folha salarial. Com isso, os empresários precisam reajustar os seus preços em percentual acima da inflação anterior, para compensar o acréscimo referente ao percentual do PIB, de forma a manter a margem de lucro.

Se esta regra de reajuste do salário mínimo não pode ser alterada, por ela ter o objetivo de reduzir a desigualdade de renda no país, então outra solução precisa ser encontrada para controlar a inflação, senão o processo inflacionário impedirá que a regra do reajuste tenha o efeito desejado, além da consequentente desestabilização econômica.
Por meio de política fiscal, o governo poderia reduzir os gastos e/ou aumentar os impostos. Quanto a redução dos gastos, esta poderia ser pela redução das despesas com a manutenção da máquina pública, ou seja, redução de contratações, congelamento de salários e medidas de melhora da eficiência do sistema burocrático. Medidas bastante impopulares.
A redução dos gastos também poderia vir pela redução dos investimentos, como os envolvidos no PAC. Ainda que estes investimentos tenham uma alta contribuição para a elevação da demanda agregada devido ao seu maior efeito multiplicador, tais investimentos são necessários para a redução de gargalos na infraestrutura nacional e para o aumento da competitividade da indústria nacional. Ou seja,tais investimentos permitem a realização de novos investimentos que aumentaram a oferta e podem vir a contribuir no médio e longo prazo para o controle da inflação, ainda que a pressionem no curto prazo.

Assim, com a regra de reajuste do salário mínimo e os investimentos do governo, tem-se um mercado interno aquecido pelo aumento da demanda da crescente classe média e pela demanda do governo.
A última alternativa em termos de política fiscal seria o aumento da tributação ou uma reforma tributária que redistribua a carga de modo a desonerar setores que precisam de incentivos para investimento e aumentar a carga sobre outros que estejam com demanda estável e rentabilidade confortável. Contudo, como a carga atual já é alta, tal alternativa é politicamente inviável.

A política monetária poderia ser utilizada no sentido de controlar o crédito e estimular a poupança reduzindo assim, o volume de meios de pagamento em circulação.

A redução do crédito é complexa, pois o aumento dos juros leva ao encarecimento do crédito e o aumento do retorno sobre títulos de baixo risco, como os da dívida pública do governo. Com isso, os agentes financeiros percebem menor vantagem em emprestar ao mercado. Contudo, o aumento destes juros também aumenta a propensão à  poupança da população de renda mais alta, a qual por não ser responsável pelo aumento da demanda, não trará benefício para o controle da inflação e ainda reduzirá a propensão ao investimento destes agentes. Ou seja, a elevação dos juros seria interessante combinada com a aplicação de imposto específico sobre grandes rendas com investimentos não produtivos, ou seja, que não contribuem para o aumento da oferta.
Que não seja ignorado o aspecto da elevação dos juros para o aumento da atratividade dos títulos para que sejam utilizados como forma de captação para financiamento dos investimentos em infraestrutura, evitando a captação mais cara com outros agentes e a emissão de moeda. Contudo, os títulos já possuem atratividade suficiente pelo baixo risco e já alto retorno, e a possibilidade de danos com o aumento destas taxas pode ser alta, como por exemplo, a inibição do crédito ao mercado pode não somente reduzir o crédito ao consumo, como pode também ser reduzido para novos investimentos por empresas, o que leva a uma restrição no aumento da oferta e um aumento da pressão inflacionária por demanda.
O mesmo pode ocorrer com o aumento dos depósito compulsórios, exceto caso seja possível fazer distinções entre crédito para investimento e para o consumo, flexibilizando o limite de acordo com a carteia de clientes de cada banco.
Outra alternativa seria a utilização da política cambial para o controle da inflação. Com o Real bastante valorizado os custos dos produtos importados já estão reduzidos, pressionando os preços internamente.
A baixa pressão da demanda externa por produtos nacionais devido à crise internacional já permite uma incremento da oferta doméstica de produtos que outras circunstâncias seriam dedicados ao mercado externo.
Estas duas características já estão contribuindo bem para o controle da inflação, ainda sem causar problemas para as reservas cambiais. Contudo, estas características podem mudar de forma considerável devido à instabilidade das principais economias no mundo.
Assim, ainda sobre mercado externo, mas com um viés tarifário e aproveitando a condição confortável das reservas nacionais, se poderia criar incentivos para importação de itens importantes que estejam sofrendo com a pressão da demanda ou com elevação dos custos de produção, mas que não façam parte de indústrias prioritárias a serem desenvolvidas no país. Preferencialmente produtos de baixo valor agregado ofertados por países vizinhos, africanos ou do sudoeste asiático que não possuam uma indústria de oferta satisfatória no Brasil e que não haja interesse que seja melhor desenvolvida internamente.
Com isso, se reduziria a pressão pela oferta de tais produtos, logo a redução da pressão sobre seus preços, além de liberar capital e mão de obra (atualmente escassos) para setores prioritários da economia. Ou seja, se reduz a pressão pela inflação de demanda, sem reduzir o ritmo de investimentos e crescimento do PIB, além de criar boas relações com outros países através de parcerias comerciais.

Ainda assim haveria a existência de uma inflação moderada/alta, devido a pressão dos custos das folhas salariais decorrentes dos reajustes e da escassez. Mas se impediria a atual escalada que está emergindo e poderá voltar a sair de controle devido ao contato cada vez mais próximo com a memória inflacionária do país e o risco da intensificação da indexação de contratos.

domingo, 25 de setembro de 2011

O futuro dos palavrões


(Obs.: Sim. Tem alguns palavrões ao longo do texto. Regozije-se)

Como eu não tenho o hábito de utilizá-los, ao menos, não em público (hipócrita?! sim sou), talvez eu consiga perceber melhor como e com que frequência são utilizados.
Os palavrões já não são mais os mesmos. Melhor dizendo, eles ainda são os mesmos (pelo menos não conheço nenhum novo), mas não possuem o mesmo impacto de outros tempos e estão mais parecidos com outras interjeições “cultas”.

Fazendo uma analogia, eles parecem com os políticos de esquerda. Há um tempo eles assustavam com sua ferocidade, aparência e ideias, hoje não conseguimos diferenciá-los dos políticos de centro, até as siglas já perderam o significado.
Uma observação interessante é que as interjeições, quanto mais impacto perdem, menos são usadas. Isto é óbvio, já que a função da interjeição é expressar algo que tenha alguma intensidade. Por exemplo, há muito tempo dizer “pô” para expressar surpresa ou insatisfação era algo muito feio. Você corria o risco de levar uma tapa na boca.
Hoje, com a “porra” e suas variantes (porram, porrein, etc) bastante populares, circulando com frequência nas bocas de todos, “pô” e “poxa” ficaram fracos, ultrapassados e sem moral (ou morais demais) perante aos demais palavrões.
Outra observação interessante é a perda de significado dos palavrões, assim como ocorreu com interjeições como “Oba”, “Caramba” e “Puxa”. “Porra” e “Caralho”, por exemplo, se referem ao sêmen e ao pênis. Mas é comum ouvir coisas como:
- “Gosto disso pra caralho” (você gostou de alguma coisa para colocar no seu caralho ou em qualquer caralho?);
- “Vou comprar essa porra toda” (Que gula!);
- “Carro da porra” (O proprietário do carro é a porra ou o carro que veio da porra?);
- “Puta que o pariu, começou a chover” (pariu quem: a chuva?) ou “Chuva filha da puta”.
Confesso que é interessante observar que o “caralho” e a “porra” estão cada vez mais nas bocas das pessoas. Umas poucas pessoas preferem substituir “Porra” e “Caralho” por “Buceta” (deve ter sido por influência de algum movimento feminista), normalmente mulheres. Os homens tendem a preferir mais a “porra” e o “caralho”.
 Agora, o problema para não é exatamente a popularização dos palavrões, mas a sua perda de função. Eu, por exemplo, queria descrever um show que foi tão bom que eu precisava de uma interjeição que tivesse um impacto equivalente, mas não achei um. A alternativa foi utilizar vários para enfatizar bem.
Acredito que nossa língua (portuguesa, para deixar claro) está em meio a uma crise séria de falta de novos palavrões, especialmente os de alto impacto. Seria isto resultado de uma sociedade cada vez mais insensível, incapaz de sentir experiências muito intensas, de modo que não precisam expressá-las? Ou será que estas experiências estão tão comuns que não precisam de um palavrão especial?
Sendo assim: precisamos criar um novo nível de experiências ou precisamos inventar novos palavrões?.
Quer que eu conte as minhas sugestões?
Palavrão também é assunto na superinteressante: http://super.abril.com.br/revista/249/materia_revista_267997.shtml