(Obs.: Sim. Tem alguns palavrões ao longo do texto. Regozije-se)
Como eu não tenho o hábito de utilizá-los, ao
menos, não em público (hipócrita?! sim sou), talvez eu consiga perceber melhor
como e com que frequência são utilizados.
Os palavrões já não são mais os mesmos.
Melhor dizendo, eles ainda são os mesmos (pelo menos não conheço nenhum novo),
mas não possuem o mesmo impacto de outros tempos e estão mais parecidos com
outras interjeições “cultas”.
Fazendo uma analogia, eles parecem com os
políticos de esquerda. Há um tempo eles assustavam com sua ferocidade,
aparência e ideias, hoje não conseguimos diferenciá-los dos políticos de
centro, até as siglas já perderam o significado.
Uma observação interessante é que as
interjeições, quanto mais impacto perdem, menos são usadas. Isto é óbvio, já
que a função da interjeição é expressar algo que tenha alguma intensidade. Por
exemplo, há muito tempo dizer “pô” para expressar surpresa ou insatisfação era
algo muito feio. Você corria o risco de levar uma tapa na boca.
Hoje, com a “porra” e suas variantes
(porram, porrein, etc) bastante populares, circulando com frequência nas bocas
de todos, “pô” e “poxa” ficaram fracos, ultrapassados e sem moral (ou morais
demais) perante aos demais palavrões.
Outra observação interessante é a perda de
significado dos palavrões, assim como ocorreu com interjeições como “Oba”, “Caramba”
e “Puxa”. “Porra” e “Caralho”, por exemplo, se referem ao sêmen e ao pênis. Mas
é comum ouvir coisas como:
- “Gosto disso pra caralho” (você gostou de
alguma coisa para colocar no seu caralho ou em qualquer caralho?);
- “Vou comprar essa porra toda” (Que
gula!);
- “Carro da porra” (O proprietário do carro
é a porra ou o carro que veio da porra?);
- “Puta que o pariu, começou a chover”
(pariu quem: a chuva?) ou “Chuva filha da puta”.
Confesso que é interessante observar que o “caralho”
e a “porra” estão cada vez mais nas bocas das pessoas. Umas poucas pessoas
preferem substituir “Porra” e “Caralho” por “Buceta” (deve ter sido por
influência de algum movimento feminista), normalmente mulheres. Os homens
tendem a preferir mais a “porra” e o “caralho”.
Acredito que nossa língua (portuguesa, para
deixar claro) está em meio a uma crise séria de falta de novos palavrões,
especialmente os de alto impacto. Seria isto resultado de uma sociedade cada
vez mais insensível, incapaz de sentir experiências muito intensas, de modo que
não precisam expressá-las? Ou será que estas experiências estão tão comuns que
não precisam de um palavrão especial?
Sendo assim: precisamos criar um novo nível
de experiências ou precisamos inventar novos palavrões?.
Quer que eu conte as minhas sugestões?
Palavrão também é assunto na superinteressante: http://super.abril.com.br/revista/249/materia_revista_267997.shtml
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