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domingo, 25 de setembro de 2011

O futuro dos palavrões


(Obs.: Sim. Tem alguns palavrões ao longo do texto. Regozije-se)

Como eu não tenho o hábito de utilizá-los, ao menos, não em público (hipócrita?! sim sou), talvez eu consiga perceber melhor como e com que frequência são utilizados.
Os palavrões já não são mais os mesmos. Melhor dizendo, eles ainda são os mesmos (pelo menos não conheço nenhum novo), mas não possuem o mesmo impacto de outros tempos e estão mais parecidos com outras interjeições “cultas”.

Fazendo uma analogia, eles parecem com os políticos de esquerda. Há um tempo eles assustavam com sua ferocidade, aparência e ideias, hoje não conseguimos diferenciá-los dos políticos de centro, até as siglas já perderam o significado.
Uma observação interessante é que as interjeições, quanto mais impacto perdem, menos são usadas. Isto é óbvio, já que a função da interjeição é expressar algo que tenha alguma intensidade. Por exemplo, há muito tempo dizer “pô” para expressar surpresa ou insatisfação era algo muito feio. Você corria o risco de levar uma tapa na boca.
Hoje, com a “porra” e suas variantes (porram, porrein, etc) bastante populares, circulando com frequência nas bocas de todos, “pô” e “poxa” ficaram fracos, ultrapassados e sem moral (ou morais demais) perante aos demais palavrões.
Outra observação interessante é a perda de significado dos palavrões, assim como ocorreu com interjeições como “Oba”, “Caramba” e “Puxa”. “Porra” e “Caralho”, por exemplo, se referem ao sêmen e ao pênis. Mas é comum ouvir coisas como:
- “Gosto disso pra caralho” (você gostou de alguma coisa para colocar no seu caralho ou em qualquer caralho?);
- “Vou comprar essa porra toda” (Que gula!);
- “Carro da porra” (O proprietário do carro é a porra ou o carro que veio da porra?);
- “Puta que o pariu, começou a chover” (pariu quem: a chuva?) ou “Chuva filha da puta”.
Confesso que é interessante observar que o “caralho” e a “porra” estão cada vez mais nas bocas das pessoas. Umas poucas pessoas preferem substituir “Porra” e “Caralho” por “Buceta” (deve ter sido por influência de algum movimento feminista), normalmente mulheres. Os homens tendem a preferir mais a “porra” e o “caralho”.
 Agora, o problema para não é exatamente a popularização dos palavrões, mas a sua perda de função. Eu, por exemplo, queria descrever um show que foi tão bom que eu precisava de uma interjeição que tivesse um impacto equivalente, mas não achei um. A alternativa foi utilizar vários para enfatizar bem.
Acredito que nossa língua (portuguesa, para deixar claro) está em meio a uma crise séria de falta de novos palavrões, especialmente os de alto impacto. Seria isto resultado de uma sociedade cada vez mais insensível, incapaz de sentir experiências muito intensas, de modo que não precisam expressá-las? Ou será que estas experiências estão tão comuns que não precisam de um palavrão especial?
Sendo assim: precisamos criar um novo nível de experiências ou precisamos inventar novos palavrões?.
Quer que eu conte as minhas sugestões?
Palavrão também é assunto na superinteressante: http://super.abril.com.br/revista/249/materia_revista_267997.shtml

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